A Porto Alegre da Rossana
Em março abrimos espaço pras palavras das navetes em comemoração aos 250 anos da nossa capital. Pra começar uma linda reflexão – e uma linda foto também, aliás – da sensível e talentosa jornalista Rossana Gradaschi, carinhosamente chamada também de Locanda, sobre a Porto Alegre que mora no coração dela. Deliciem-se.
A Porto Alegre da Rossana
Porto Alegre do rio ou do lago, tanto faz, mas é nessa água que o sol se deita e nos brinda com um espetáculo incrível. Dizem que é o mais bonito do mundo.
Bairrismo? Pode ser. Gosto de largar um bah, um capaz e um tri; de comer Xis e cachorro-quente do Rosário ou uma jarra de suco na Lancheria do Parque; de comer churrasco na Dom Henrique do Menino Deus, que tem a melhor maionese do mundo; De ficar estufada com um pão com chimia e nata ou cuca de mumu; Ah, sem esquecer da Pastelina, sua musa, e o Fruki. E pagar tudo com uns pila.
E quando esfria, aquele frio de renguear o cusco, todo mundo vai pra Serra, pra sentir mais frio ainda. Já no verão todo mundo atucanado na sexta-feira pra pegar a freeway e tomar banho de chocolatão no litoral gaúcho, do lado da plataforma.
Porto Alegre dos ipês amarelos e das suas ruas arborizadas. Só complica um pouco quando a gente estaciona e aquelas florzinhas grudam tudo no vidro do carro.
Nasci chorando no Moinhos de Vento, mas meu pai me registrou em Soledade, onde morávamos – a cerca de 220 quilômetros da capital. Mas bateu 18 e lá veio ela pro Portinho novamente pra cursar a Facul – que era em São Leopoldo, mas foi aqui que me espraiei mesmo.
Tive várias fases minha com essa cidade que me acolheu. A fase do Garagem Hermética (quem nunca dormiu naquele sofá?); do Elo Perdido (aquela entrada rosa e fofa); da Cidade Baixa (e seus barzinhos lotados junto do Opinião); da Redenção nos domingos com o brique e nos sábados com a feirinha de frutas; do Parcão (onde a gente leva mil voltas pra fazer uma corrida ou caminhada); dos museus (do centro e do Iberê que tem uma arquitetura “duca”); da feira do livro (o quanto já suei naquela praça trabalhando e passeando); do Marinha (que fica pertinho de casa) e agora essa nova Orla que a cidade ganhou de presente. E é lindo esse reencontro da cidade com o rio, lago (tanto faz), o que importa é que fizemos as pazes com ele e só quem ganhou com isso fomos nós.
Foi nessa cidade que encontrei meu amor que morava no mesmo bairro que eu, mas só o vi quando me mudei. Foi aqui que no mesmo hospital que nasci, dei à luz ao meu filho, um filho que viaja o mundo, mas que diz que a melhor comida é daqui, inclusive o suco do laranja (da Dom Henrique).
Foi aqui que desde pequena me encantei com o futebol, primeiro ao lado do meu pai, depois ao lado do meu primo e depois com meu marido (sim, pra casar tem que ser colorado, senão dá briga). Ah, o Beira, lindão que enxergo todos os dias da minha casa. Como chorei naquela final da Liberta. E como festejei no final do Mundial. Paixão de família que hoje meu filho carrega com ele e sofre, como já sofríamos na nossa época.
Foi aqui que me encontrei como jornalista / assessora de imprensa e sou muito feliz com a profissão que decidi seguir. Gosto e vibro como uma criança quando emplaco um cliente num veículo grande. Dá aquele friozinho na barriga em cada texto bom que sai. Como é bom se encantar diariamente com o que a gente faz ne? Ah, e ainda tenho uma chefe que ama vinho como eu. Bons papos, livros e safras compartilhadas.
Enfim, foi aqui que escolhi morar, viver. Às vezes me irrita com algumas coisas muito bairristas. Mas bairrista, quem não é, né?