Sobre pandemia, assessoria de imprensa e coleguismo
Trabalhar dentro de um hospital com certeza não deve ser tarefa fácil. Trabalhar dentro de um hospital em uma pandemia realmente não temos condições de imaginar: a carga de trabalho emocional certamente é maior que a mental, a física, que todas juntas. O que nem todos pensam ou se dão conta é que além dos todos os profissionais da saúde que lá estão, também são muito importantes – e como – os responsáveis pela comunicação, interna e externa, de tudo o que acontece lá dentro. A jornalista Elisa Kopplin Ferraretto, a frente da comunicação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – um dos mais importantes do Brasil – há muitos anos, faz um relato emocionado sobre as funções, e os sentimentos, do assessor de imprensa, profissional muitas vezes ainda relegado ao segundo plano no jornalismo.
Leia e reflita.
Sobre pandemia, assessoria de imprensa e coleguismo
Elisa Kopplin Ferrareto, jornalista
Assessor de imprensa é aquele profissional que faz o meio de campo entre uma fonte de informação e os veículos de comunicação. A instituição em que trabalha tem uma informação importante a divulgar, ele vai em busca de espaços; um jornalista precisa de uma informação ou entrevista, ele vai atrás.
Nesta pandemia de covid-19, dá gosto trabalhar com assessoria de imprensa. Não pelo tema, obviamente, que é triste, duro, pesado, revoltante, estressante do ponto de vista emocional. Mas pela atitude de ambos os lados, fontes e jornalistas (ou pelo menos grande parte deles).
Às vezes a gente se sente constrangida em pedir para um profissional de saúde da linha de frente mais uma entrevista ou depoimento. E ele te conforta: “Não tem problema, eu sei que é importante”. Tu ficas imaginando de onde ele tira tempo, energia e equilíbrio para dar conta de mais essa demanda em meio à sua terrível jornada de trabalho – mas ele nunca te deixa na mão, porque entende que disseminar a boa informação faz parte de sua missão.
De outro lado, está o constrangimento em mandar um whats ou fazer ligação para um jornalista em um domingo à noite, às seis da manhã, no meio de um feriado. Tu pedes desculpa pelo dia e horário, mas ele não se importa e te agradece por estares compartilhando aquela notícia, pois também entende que divulgá-la é sua missão. E a comunicação não se restringe ao trabalho – mesmo colegas que não conheces pessoalmente te perguntam se tu estás bem, te desejam força e coragem, demonstram solidariedade. E se colocam à disposição para fazer mais. Abraços de verdade são combinados para um futuro em que isso seja possível, mas enquanto isso nunca falta o afago virtual.
Pessoalmente, não tenho conseguido acreditar que depois da pandemia de covid-19 a humanidade será melhor. Mas as experiências que tenho vivido nesse processo de intermediação acendem uma tênue chama… quem sabe…